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MULHERES NO ROCK BRASILEIRO: HISTÓRIAS, CONQUISTAS E RESISTÊNCIA

  • Foto do escritor: Natália Vasle
    Natália Vasle
  • 31 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de mai.

Embora guitarras estridentes e baterias sejam frequentemente associadas a ícones masculinos, a história do rock, no Brasil e no mundo, tem sua origem ligada a vozes femininas


Por Natália Vasle


Rita Lee ocupa a 15ª posição na lista da Rolling Stone sobre os 100 maiores artistas brasileiros (Foto: Natália Vasle- Coleção pessoal de Tiago Bessa)
Rita Lee ocupa a 15ª posição na lista da Rolling Stone sobre os 100 maiores artistas brasileiros (Foto: Natália Vasle- Coleção pessoal de Tiago Bessa)

As Pioneiras

O rock brasileiro, assim como diversos outros gêneros, foi inaugurado por uma mulher. A trajetória delas é apenas o ponto de partida de uma rica história de protagonismo feminino que desafia seu próprio apagamento e exige reconhecimento, e no Brasil, não podemos falar de rock nacional sem falar das três mulheres que abriram caminho para todos os artistas que vieram depois.


No dia 26 de outubro de 1955, a carioca Iracema de Sousa Ferreira, mais conhecida como Nora Ney, gravou a primeira faixa de rock do Brasil: “Rock Around the Clock”, versão do clássico americano que aqui no Brasil ganhou o nome de “Ronda das Horas”. De acordo com a matéria “Mulheres no Rock Brasileiro”, do site “Music Non Stop”, embora ela tenha se consagrado no samba-canção, foi no rock que ela deixou sua marca e contribuição maior. 


Poucos anos depois, em 1959, surgiu a primeira estrela do rock nacional: Celly Campello, que, com apenas 17 anos, estourou nas rádios com versões em português de hits do rock norte-americano. Seu maior sucesso, “Estúpido Cupido”, se tornou um fenômeno nacional e deu origem ao movimento da Jovem Guarda, marco da juventude brasileira durante a época do otimismo desenvolvimentista no governo Juscelino Kubitschek. Celly, junto com seu irmão Tony, foi peça fundamental na popularização do gênero em português, e apesar de todo o  sucesso que fez, abandonou a carreira em 1962 para se casar, um retrato claro das imposições da época sobre o destino da mulher. 


A terceira peça desse trio é a Wanderléa, mais conhecida como “Ternurinha”, mineira que se tornou símbolo da Jovem Guarda. Além do lado musical, suas roupas ousadas, danças energéticas e repertório cheio de temas sobre liberdade e juventude fizeram dela um símbolo de uma nova mulher brasileira: mais independente, urbana e dona de si. Ao lado de Roberto e Erasmo Carlos, ela levou o rock à televisão e, consequentemente, a novos públicos. Em 1967, seu álbum trouxe a primeira gravação brasileira com o efeito de guitarra fuzz, na música “Prova de Fogo”, e isso ajudou na sua consolidação como uma das figuras mais marcantes da música jovem da época.


Wanderléa estampou a capa da Revista Contigo nº 39, na edição de Natal em 1966 (Foto: @jovem_guarda_fotos no Instagram)
Wanderléa estampou a capa da Revista Contigo nº 39, na edição de Natal em 1966 (Foto: @jovem_guarda_fotos no Instagram)

A Reinvenção


Na década de 70, aconteceu o fim do programa Jovem Guarda e o endurecimento do regime militar, e com isso o rock perdeu espaço no mainstream. Mesmo assim, nomes como Rita Lee mantiveram viva a rebeldia sonora. Rita, considerada a "rainha do rock brasileiro", desafiou padrões estéticos, sociais e de gênero ao longo de uma carreira que atravessou cinco décadas e conta com 28 discos gravados, segundo o “Estado De Minas”. Ela passou por todos os estilos musicais e foi a principal responsável por fazer com que outras artistas mulheres falassem abertamente sobre questões sociais e sexuais com propriedade. 


Ao lado de Rita, outra pioneira fez história: Lucinha Turnbull, a primeira guitarrista mulher do Brasil. Com seu estilo psicodélico e parcerias marcantes, a paulistana influenciou gerações futuras com sua autenticidade e talento. As duas, inclusive, viraram amigas e chegaram a formar uma dupla de folk rock chamada Cilibrinas do Éden, cuja única performance foi no festival Photo 73, em São Paulo. 


Também nessa década, o grupo vocal “As Frenéticas" explodiu na era disco com hits dançantes e visuais extravagantes, vendendo mais de 500 mil cópias. Angela Ro Ro, por sua vez, trouxe o blues para o centro da cena. Com sua voz rouca e potente, ela desafiou tabus de gênero e sexualidade desde seu primeiro disco, lançado em 1979, e segue sendo até hoje referência na música brasileira.


Anos 80


O entusiasmo dos anos 80 trouxe consigo o movimento BRock. Entre seus nomes estavam Fernanda Abreu e Márcia Bulcão, backing vocals da banda Blitz, que inovaram ao transformar o vocal de apoio em arte performática. Já Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, surgiu como uma das figuras mais carismáticas e bem-sucedidas da década, marcando o pop-rock nacional com letras provocativas e uma voz suave.


Paula Toller na época do lançamento de seu primeiro álbum solo, em 1998 (Foto: @paulatoller no Instagram)
Paula Toller na época do lançamento de seu primeiro álbum solo, em 1998 (Foto: @paulatoller no Instagram)

Outro nome que merece destaque é o de Cássia Eller. Com uma voz impossível de confundir e um repertório versátil, Cássia rompeu fronteiras estilísticas e deixou um rastro na música brasileira que segue pulsando mesmo após sua morte precoce, em 2001, em decorrência de uma parada cardíaca.


Anos 2000 em Diante


Nos anos 2000, o protagonismo feminino no rock ganhou novas vozes. Pitty, que iniciou sua carreira no punk de Salvador, se tornou um fenômeno de vendas com o disco “Admirável Chip Novo”, de 2003, falando de temas como desigualdade e alienação.


Ao mesmo tempo, surgia a banda Bertha Lutz, formada em 2006 por mulheres que tinham letras combativas e uma postura claramente política. Elas são símbolo de resistência e representatividade preta e lésbica no rock brasileiro.


No rádio, na televisão, nos palcos e na internet. As mulheres sempre estiveram presentes na história do rock brasileiro, mesmo sendo constantemente empurradas para os bastidores. Hoje, mais do que nunca, é essencial resgatar essas vozes, ouvir suas histórias e garantir que elas continuem a ocupar o espaço que sempre as pertenceu. Porque, como mostra a história, o rock brasileiro também é — e sempre foi — feminino.

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CONTATO

Esta página foi produzida como um trabalho experimental para as disciplinas de Projeto Interdisciplinar de Comunicação II, Técnicas de Reportagem, Entrevista e Redação Jornalística, Planejamento Gráfico, Produção Audiovisual e Teorias da Comunicação I, sob a orientação de Ana Paula de Moraes Teixeira, Mirna Tonus, Christiane Pitanga e Adriana Omena respectivamente, por alunas do segundo período do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).  Os conteúdos que compõem  a página são da responsabilidade das autoras e estão de acordo com as condições da atribuição 3.0 do Creative Commons.

 

Por Aiko Fukushima, Isadora Pimenta e Natália Vasle

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