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COMO A DÉCADA DE 1980 SE TORNOU UM SÍMBOLO DE RESISTÊNCIA E LIBERDADE ATRAVÉS DO ROCK NACIONAL

  • Foto do escritor: Natália Vasle
    Natália Vasle
  • 31 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de mai.

A música, a política e a juventude: os elementos que, juntos, mudaram a cena do país inteiro e fizeram essa década ser lembrada até hoje como um grito de esperança e de autonomia


Por Natália Vasle


A banda Legião Urbana surgiu em 1982 e rapidamente virou uma das mais influentes do Brasil (Foto: @legiãourbanaoficial no Instagram)
A banda Legião Urbana surgiu em 1982 e rapidamente virou uma das mais influentes do Brasil (Foto: @legiãourbanaoficial no Instagram)

O rock nacional foi a trilha sonora da juventude brasileira durante a redemocratização do país e moldou uma geração marcada pela repulsa do passado autoritário e pela ânsia de mudança. No início dos anos 1980, o rock brasileiro ganhou força e se tornou uma poderosa forma de expressão política e cultural. Mas para compreender esse momento, é preciso falar sobre o momento político que o Brasil se encontrava.


O país vivia o fim da ditadura militar e o início da redemocratização, com o Movimento Diretas Já, que exigia a retomada das eleições diretas para a Presidência da República e levou milhares de jovens às ruas. Esse movimento alcançou, em 1985, o fim do regime militar e a eleição indireta de Tancredo Neves, que, no entanto, faleceu antes de tomar posse. Com isso, quem assumiu a presidência foi o então vice, José Sarney. Foi somente em 1989 que ocorreriam as primeiras eleições diretas para presidente, resultando na eleição de Fernando Collor de Mello.


A voz de uma geração


Filhos da repressão e da censura, os jovens que cresceram durante a ditadura militar e que vinham com a expectativa de serem pessoas apolíticas e alienadas surpreenderam com um movimento que muitos esperavam que jamais acontecesse: eles estudaram e se politizaram, e muito disso se deve ao rock. A música se tornou um canal legítimo de debate sobre temas que até então estavam restritos às páginas de economia e política dos jornais.


Canções como “Geração Coca-Cola” e “Que País É Este?”, da Legião Urbana, tornaram-se hinos de contestação. Renato Russo, Cazuza e Arnaldo Antunes não só cantaram, mas também refletiram o espírito crítico de toda uma geração. Já bandas como Titãs, Barão Vermelho, Blitz e Paralamas do Sucesso subiram ao topo das paradas de sucesso com letras que refletiam as angústias, desejos e insatisfações de uma juventude em ebulição.


O início de tudo


O marco inicial do rock nacional, também chamado de BRock, é frequentemente atribuído ao single “Perdidos na Selva”, da banda Gang 90 e as Absurdettes, lançado em 1981. No entanto, foi com a Blitz, em 1982, que o movimento realmente entrou em cena. Com o hit “Você Não Soube Me Amar", a banda carioca levou o rock para as trilhas sonoras da novela da Globo “Sol de Verão” e se destacou com uma estética teatralizada.


Uma curiosidade sobre o álbum de estreia da Blitz é que eles riscaram à mão a matriz (master) dele, e assim, cerca de 30 mil cópias do vinil pareciam ter sido assinadas diretamente pelos integrantes da banda, em uma tentativa de burlar a censura da Ditadura, que havia vetado duas faixas do disco.


A sonoridade do BRock foi um ajuntamento de influências como o new wave, pós-punk, blues, techno pop e até reggae, e cada cidade deu ao movimento características próprias. De acordo com a matéria “O auge do rock nacional durante a década de 1980”, do site “Universo Retrô”, Brasília trouxe uma poesia existencial, com o foco voltado para a rotina da cidade. Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude nasceram ali, filhos de professores, diplomatas e servidores públicos.São Paulo, com o caos urbano, deu origem ao som mais direto e sarcástico de Titãs, Ira! e Ultraje a Rigor. Já o Rio de Janeiro, sendo o centro dessa repercussão, ofereceu o apelo teatral da Blitz, o romantismo do Kid Abelha e a fúria blues-rock do Barão Vermelho. 


Porto Alegre e Salvador, cidades que expandiram as fronteiras do rock, tradicionalmente feito no eixo Rio-SP, também deixaram marcas com os Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós e Camisa de Vênus, banda formada por Marcelo Nova, influenciado por artistas como Raul Seixas e Novos Baianos que viveram seu auge nos anos 70.


A consagração


O grande divisor de águas para o rock nacional foi a primeira edição do Rock in Rio, em 1985. Criado por Roberto Medina, o festival deu palco às principais bandas brasileiras ao lado de grandes nomes internacionais. Foi a confirmação de que o movimento, que já agitava rádios e programas de TV, dominava também as ruas.


Com um show icônico, Queen deixou sua marca no primeiro Rock in Rio, em 1985 (Foto: @freddie_m.e.r.c.u.r.y no Instagram)
Com um show icônico, Queen deixou sua marca no primeiro Rock in Rio, em 1985 (Foto: @freddie_m.e.r.c.u.r.y no Instagram)

A força desse estilo também se deve a um fator midiático importante: a televisão. Na década de 80, a Rede Globo já contava com um alcance gigante e isso foi decisivo para alavancar vários artistas e músicas (como aconteceu com “Você Não Soube Me Amar", já dito anteriormente).


O rádio, por sua vez, ampliou a presença das bandas fora dos grandes centros urbanos. Em pouco tempo, o rock nacional estava nos toca-fitas dos carros, nas boates alternativas e nas festas de garagem. Era um estilo de música feito por jovens para jovens, e que chegou ao grande público com força surpreendente.


Declínio e legado


A partir de 1989, com a eleição de Fernando Collor, o BRock começou a perder fôlego. O cenário se fragmentou, novas sonoridades ganharam espaço, e a mistura com a MPB suavizou a força crítica de muitas bandas. A década de 1990 trouxe outros estilos musicais, e parte da geração de 80 saiu de cena, alguns de forma trágica.


A morte de Cazuza, em 1990, e de Raul Seixas, em 1989, além dos episódios de violência sofridos por Renato Russo em apresentações, marcaram simbolicamente o fim de uma era. Ainda assim, o impacto permanece; em shows, tributos, regravações e playlists, as vozes daquela década continuam ecoando. E o mais importante: as ideias também.


O rock nacional dos anos 80 não foi apenas um movimento musical: foi reflexo e causador de uma transformação histórica. Seus versos atravessaram censuras, quebraram silêncios e ajudaram a moldar um país que lutava para reencontrar sua liberdade. No som das guitarras e nos gritos dos refrões, uma geração inteira encontrou força para questionar e protestar por um Brasil diferente. O BRock foi — e ainda é — o som da resistência.


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Esta página foi produzida como um trabalho experimental para as disciplinas de Projeto Interdisciplinar de Comunicação II, Técnicas de Reportagem, Entrevista e Redação Jornalística, Planejamento Gráfico, Produção Audiovisual e Teorias da Comunicação I, sob a orientação de Ana Paula de Moraes Teixeira, Mirna Tonus, Christiane Pitanga e Adriana Omena respectivamente, por alunas do segundo período do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).  Os conteúdos que compõem  a página são da responsabilidade das autoras e estão de acordo com as condições da atribuição 3.0 do Creative Commons.

 

Por Aiko Fukushima, Isadora Pimenta e Natália Vasle

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