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"É UMA BRASA, MORA?": CONHEÇA A JOVEM GUARDA, MOVIMENTO QUE COMPLETA SEUS 60 ANOS

  • Foto do escritor: Isadora Pimenta
    Isadora Pimenta
  • 31 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de mai.

Por Isadora Pimenta


Programa Jovem Guarda (Foto: Arquivo Nacional)
Programa Jovem Guarda (Foto: Arquivo Nacional)

Em 1965, o programa “Jovem Guarda”, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, era lançado pela TV Record, marcando o surgimento da vertente cultural que se tornaria um fenômeno entre jovens brasileiros da época. Além dos três artistas, que eram o “rosto” dessa nova geração musical, nomes como Ronnie Von, Jerry Adriani, Vanusa e Martinha receberam grande destaque dentro do programa e do movimento, tais quais grupos como The Jordans, Renato e seus Blue Caps, The Fevers e Golden Boys.


A Jovem Guarda deixou sua marca na história do rock nacional, incorporando às nossas músicas letras e tendências do rock estadunidense. Entretanto, sua marca não se restringiu ao campo da música, e influenciou o campo da moda, os comportamentos e o vocabulário dos brasileiros, com esses fatores sendo mediados, principalmente, pelos jovens e adolescentes. “Broto” pode não ser mais usado para falar de uma garota bonita, e é improvável ver um casaco de pele sendo usado no dia-a-dia, mas os resquícios do movimento ainda se encontram na cultura brasileira atual, seja quando vemos uma minissaia ou quando ouvimos que alguém vai “ficar pra tia”.


Influência de fora


É inegável o fator inovador que a Jovem Guarda trouxe ao cenário musical da época, e isso se dá por conta da forte influência que os artistas tinham do Rock-n-Roll e do Soul, até então dos Estados Unidos. Segundo Daniel Neves Silva,  artistas e bandas como Elvis Presley, Rolling Stones e Os Beatles tiveram, indiretamente, um grande papel no som “iê-iê-iê” das canções “jovem-guardenses”. Além disso, o próprio uso da guitarra elétrica, característica importante do rock da época, foi introduzido no cenário nacional pelos artistas do movimento.


Além das melodias, é possível identificar a influência clara do exterior nas letras das canções da Jovem Guarda, que até hoje é muito associada aos seus covers e versões em português de sucessos internacionais. É possível citar como exemplo a canção “Feche os Olhos”, da banda Renato e seus Blue Caps, que é uma “versão brasileira” do hit “All My Loving”, de Os Beatles. Nesse sentido, “Splish Splash”, de Roberto Carlos é, também, versão da canção de mesmo nome de Bobby Darin, assim como “Ternura” de Wanderléa, inspirada na música “Somehow it Got to be Tomorrow Today”, de Pat Woodell.


Segundo Fernando Krieger (2022), a origem dessa tendência da Jovem Guarda de trazer o rock de fora para o cenário brasileiro pode ser traçada até 1958, quando os irmãos Tony e Celly Campello gravaram, em inglês, as músicas originais “Forgive me”, na voz de Tony, e “Handsome Boy”, na voz de Celly, fortemente inspiradas no rock romântico da década de 50, que fazia grande sucesso nos Estados Unidos. Entretanto, os maiores sucessos de Celly vieram em 1959, com “Estúpido Cupido”, versão em português de “Stupid Cupid”, de Connie Francis, e “Banho de Lua”, versão da canção “Tintarella di Luna”, da artista italiana Mina Mazzini. O enorme sucesso das “versões brasileiras” foi essencial para caracterizar a indústria musical da próxima década.


Erasmo Carlos, Wanderléia e Roberto Carlos em 1970. (Foto: Arquivo Nacional)
Erasmo Carlos, Wanderléia e Roberto Carlos em 1970. (Foto: Arquivo Nacional)

Críticas ao movimento


Os motivos principais para o movimento ser um alvo de críticas, da época de sua ascensão até os dias de hoje,  estão relacionados ao seu teor apolítico e a seu grande potencial de influência. Considerando o contexto do Brasil na época, a Ditadura Militar, as músicas da vertente musical, voltadas ao entretenimento, não condiziam com as expectativas da crítica, dos acadêmicos e dos outros artistas brasileiros, de um engajamento político que teria um grande alcance populacional vindo da Jovem Guarda.


É inegável que o enorme sucesso do grupo de artistas se dá, também, pelo fato de que eram bem vistos pelo governo da época. Ao mesmo tempo, é possível justificar que as músicas tenham sido compostas por letras relativamente simples, normalmente voltadas ao tema amoroso, visto que esses fatores retratavam a ingenuidade de seus consumidores: crianças, adolescentes e jovens. O fato é que a Jovem Guarda era vista, por muitos, como um movimento vazio e sem atitude, fazendo com que seus artistas ganhassem a fama de “alienados”.


Tal argumento não é ausente de fundamento, visto que os artistas associados ao movimento se beneficiavam, de uma forma ou de outra, da avaliação positiva do regime ditatorial. Segundo Marcelo Bortolotti (2014), Roberto Carlos, que não apresentava posicionamento político, recebeu a Medalha do Pacificador, em 1973, por sua contribuição com o governo militar, além de ser nomeado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), em 1971, como um dos artistas que cooperavam com o regime e combatiam a subversão da população. A imagem de um ídolo da juventude que não apresentava críticas à ditadura era de grande valor instrumental para os líderes da ditadura, o que serviu para que o cantor recebesse inúmeras vantagens como artista e como empresário.


Sendo assim, a vertente do rock nacional em questão pode ser vista tanto como revolucionária quanto conservadora, pois foi capaz de gerar discussões sobre sua suposta futilidade, assim como sobre sua identidade musical “alienígena”, como descreviam o som da guitarra elétrica. Sua popularidade pode ser definida como uma das principais características do movimento, que foi capaz de cativar uma enorme geração de fãs. A saída de Roberto Carlos do programa Jovem Guarda, em 1968, desencadeou o fim deste e, consequentemente, do movimento como um todo. Os artistas que marcaram presença em seu palco, então, seguiram caminhos musicais distintos, com sua maioria permanecendo no gênero rock. 



REFERÊNCIAS



BORTOLOTTI, Marcelo. Roberto Carlos em ritmo de ditadura. G1. São Paulo, 4 de abril de 2014. Disponível em: <https://epoca.oglobo.globo.com/tempo/noticia/2014/04/roberto-carlos-em-britmo-de-ditadurab.html>. Acesso em: 28 de abril de 2025.


KRIEGER, Fernando. Celly Campello, 80 anos: o broto mais legal da música brasileira!. Discografia Brasileira. 30 de junho de 2022. Disponível em: <https://discografiabrasileira.com.br/posts/245418/celly-campello-80-anos-o-broto-mais-legal-da-musica-brasileira>. Acesso em: 28 de abril de 2025.


SILVA, Daniel Neves. "Jovem Guarda"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/jovem-guarda.htm. Acesso em 28 de abril de 2025.



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Esta página foi produzida como um trabalho experimental para as disciplinas de Projeto Interdisciplinar de Comunicação II, Técnicas de Reportagem, Entrevista e Redação Jornalística, Planejamento Gráfico, Produção Audiovisual e Teorias da Comunicação I, sob a orientação de Ana Paula de Moraes Teixeira, Mirna Tonus, Christiane Pitanga e Adriana Omena respectivamente, por alunas do segundo período do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).  Os conteúdos que compõem  a página são da responsabilidade das autoras e estão de acordo com as condições da atribuição 3.0 do Creative Commons.

 

Por Aiko Fukushima, Isadora Pimenta e Natália Vasle

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